
Link:
17 Nussbaum Road, Raymond, WA, US
Músicas
Downer (incompleta) • Aero Zeppelin • If You Must • Heartbreaker (jam) • How Many More Times (jam) • Mexican Seafood • Pen Cap Chew • Spank Thru • Hairspray Queen
Sobre:
"Eles se dirigiram para Raymond, meia hora ao sul de Aberdeen, porém mais parecida com Aberdeen do que a própria Aberdeen: era uma autêntica cidade de madereiros e bitolados [...]
Ryan Aigner, que por sua atureza sociável se tornara seu empresário por um breve momento, havia acertado a apresentação; Ele importunou Kurt para que se apresentasse em público e, quando o seu amigo se esquivou, Ryan programou uma apresentação em uma festa sem o consentimento p´revio de Kurt. Ryan emprestou uma van de transportes de carpetes de seu emprego, colocou os equipamentos dentro, e apanhou Kurt, Krist. Burckhard, Shelli e Tracy, que tiveram de se sentar entre rolos de carpete. Durante a viagem, Kurt se queixava sem parar de que a banda merecia algo melhor do que essa apresentação. 'Estamos tocando em Raymond' disse ele, pronunciando o nome da cidade com pouco-caso. 'Na casa de alguém ainda por cima. eles ainda não sabem o que é rádio. Eles vão nos detestar.' [...]
A casa estava localizada na estrada Naussbaum, 17, um caminho de cascalho a onze quilômetros de Raymond, no meio de um campo. Quando chegaram, ás nove e meia da noite, Kurt imediatamente ficou receoso, vendo uma platéia de jovens que ele não conhecia. "Quando vi como era a banda", lembra Vail Stephens, que estava na festa, "eu disse: 'Ô-ô'. Eles pareciam muito diferentes da multidão em que estávamos". Foi exatamente o que Kurt havia pensado quando observou as dezenas de adolescentes com camisetas de Led Zeppelin e cabelos cortados rente na frente e comprido na nuca. Em contraste, Krist estava descalço, enquanto Kurt vestia uma camiseta do Munsters e um bracelete tachonado com pinos salientes que podia ter vindo diretamente da King's Road de Londres em 1978.
[...]Levou algum tempo para a banda montar os instrumentos e, enquanto isso, seus integrantes não procuraram exatamente se integrar com seus anfitriões. "Ele não disse uma palavra", Disse Kim Maden, referindo-se a Kurt."Tinha o cabelo escorrido, meio gorduroso, que lhe cobria o rosto." Pelo menos, em seu retraimento, Kurt era diferente de Krist, que entrou no banheiro e começou a urinar, apesar do fato de o banheiro já esta ocupado por uma garota. Krist abriu o armário de remédios, descobriu um frasco de sangue falso para Halloween que usou para cobrir seu peito nu, procurou fita isolante para colocar sobre os mamilos e começou a saquear os remédios. Saiu do banheiro, ignorou o barril de cerveja, foi para a geladeira e, encontrando a cerveja Michelob Light, gritou: "Oba, tem cerveja da boa!". Nesse momento, Kurt começara a tocar e Krist teve de correr a apanhar seu baixo porque o primeiro concerto do Nirvana havia começado.
Iniciaram com "Downer", uma das primeiras canções que Kurt compôs. A música listava queixas clássicas de Cobain contra a condição lamentável da existência humana. "Hand out Lobotomies / To Save Little families" ["Distribuam Lobotomias / Para salvar as pequenas famílias"], cantou Kurt. A letra obscura se perdia inteiramente para a platéia de Raymond, que não conseguia ouvir nada além dos solos da guitarra pesada e do baixo. Kurt acelerou na execução, embora a canção e as demais que se seguiram fossem surpreendentemente profissionais.
[...]De longe, o mais notável no show foi que a platéia não aplaudiu quando eles terminaram seu primeiro número.
A única pessoa que pareceu animada foi Krist, que anunciou: "Parece muito bom daqui", talvez para evitar que o ego suscetível de Kurt se despedaçasse. Ryan, que estava drogado, replicou: "Parece muito melhor do que costuma parecer".
"Acho que vocês deviam comprar um amplificador decente", foi o único comentário de Kurt após encerrar a primeira canção de sua autoria diante de uma platéia.
"Nós já temos um amplificador decente", afirmou Tony Poukkula, que morava na casa, "só continua a detonar." Shelli gritou para Krist não tirar a calça — era a única roupa que ele estava vestindo —, enquanto Kurt brincava: "Tem um pastelão na minha braguilha". "Beastie Boys", gritou uma mulher. "Bestiality Boys", respondeu Kurt.
Quando afinavam os instrumentos entre uma música e outra, Kurt avistou Poukkula, que tinha fama de excelente guitarrista na área, preparando sua Fender e se aproximando da banda. O que Ryan não havia dito a Kurt era que a noite fora descrita para Pokkula como uma Jam Session. A expressão de Kurt era de Horror, já que, mesmo nessa fase inicial de sua carreira, ele não queria dividir o palco. "Seria legal fazer uma Jam", mentiu delicadamente Kurt para Tony, "Mas você se importa se tocarmos nosso show até o fim? Na verdade eu não conheço canções populares e acho legal improvisar, mas só gosto de improvisar quando estou bêbado — desse jeito não me importo." Poukkula foi compreensivo e se sentou. Cabia então a Kurt entreter a platéia e nem Burckhard nem Krist, agora deitados sobre o console de televisão pareciam estar prontos. "Vamos tocar só esta", ordenou Kurt, impaciente. "Vamos só acertar o jeito que vamos tocá-la." E com isso ele começou o solo inicial de guitarra de "Aero Zeppelin", supondo que seus colegas de banda o acompanhassem, o que fizeram. Quando a música prosseguiu, soava tão acabada como soaria um ano depois, quando a gravaram.
Enquanto "Aero Zeppelin" terminava, os nativos começaram a ficar impacientes.
Novamente não houve aplauso e desta vez Kurt ficou incomodado, embora, para ser justo, grande parte do incômodo viesse de Krist e Ryan, ambos tão bêbados que mal paravam em pé. A banda tinha conseguido, como o faria em muito de seus primeiros shows, se sobrepor ao volume da platéia durante as canções: não teriam tanta sorte durante os intervalos entre as canções.
"Ei, de quem é toda essa maconha?", gritou Krist.
"Acido. Eu quero ácido!", gritou Shelli.
"Você deve apenas beber álcool", disse uma mulher de Raymond.
"Tudo o que eu quero é um bom baseado", replicou Krist.
"Você vai ver o baseado que eu vou dar para vocês agora mesmo". ameaçou Ryan.
"Façam alguns covers. Toquem qualquer coisa. Estou cansado de ver vocês bancando os bobos, retardados desse jeito. Vocês são bobos."
"Vamos tocar "Heartbreaker", gritou Krist, enquanto tocava a frase de introdução no baixo.
"Vocês estão de porre?", perguntou um sujeito.
"Toquem como Zeppelin tocava", gritou outro.
"Toquem como Tony Iommi", gritou ainda outro.
"Toquem alguma do Black Sabbath", gritou alguém da cozinha.
E com isso a coisa quase desandou — Kurt estava cambaleando a ponto de desmaiar. Krist continuava gritando "toque 'Heartbreaker'", a que Kurt, numa voz que parecia muito nova, gritando de volta: "Eu não sei". Mas mesmo assim eles começaram a canção do Zeppelin e o toque da guitarra de Kurt foi ótimo. A execução parou na metade quando Kurt esqueceu a letra, mas no momento em que ele parou, a platéia o incitou de novo, gritando "solo". Ele fez sua melhor imitação de Jimmy Page em "Heartbreaker" e incluiu trecho de "How Many More Times", mas quando parou nisso ainda não houve aplauso. Sabiamente, Kurt gritou "Mexican Seafood", todo mundo", e começaram a tocar esta música de sua autoria.
Em seguida, tocaram "Pen Cap Chew" e, depois, "Hairspray Queen". Ao final deste número, Krist estava em pé sobre a televisão, fazendo com a língua uma imitação do Kiss. Enquanto Kurt e Aaron continuavam a tocar, Krist saltou pela janela para fora da casa. Parecendo um garotinho de três anos de idade jogando água com uma mangueira num dia de verão, Voltou para dentro da casa e depois fez tudo isso de novo. "Foi maluquice", lembrou Krist. "Em vez de apenas fazer o show, pensamos, por que não um evento? Foi um evento."
O que aconteceu em seguida garantiu que aquela seria uma festa para ser lembrada. Shelli e Tracy decidiram se juntar ao estranho show esfregando as mão no peito de Krist e se beijando entre Si. Kurt rapidamente apresentou a canção seguinte: "Esta se chama "Breaking The Law". Eles tocaram a música que mais tarde se chamaria "Spank Thru", uma canção sobre masturbação. A platéia de Raymond pode não ter sido a mais sofisticada, mas começou a ter a sensação de que era alvo de algum tipo de gozação.
Shelli, tentando afanar algumas preciosas Michelob, teve o azar de ficar com o colar preso na porta da geladeira. Quando Vail Stephens fechou a porta e quebrou seu colar, uma briga começou. "Babaca gordo, escroto", gritou Shelli, enquanto ela e Vail se engalfinhavam na estrada da garagem. "Estávamos sendo chatos de propósito", lembrou Shelli. "Para nós eles era uns caipiras, e não queríamos ser caipiras."
Kurt, vendo seu primeiro show se tornar um caos, pôs a guitarra de lado e caminhou para fora, igualmente divertido e enojado. Fora da casa, uma jovem atraente se aproximou de Kurt, e enquanto isso acontecia ele deve ter sentido que seus sonhos juvenis de ser um astro do Rock e atrair tietes estavam finalmente se realizando. Mas, em vez de uma fã adoradora, esta mulher de cabeleira loura queria saber a letra de "Hairspray Queen". Aparentemente, achava que a música havia sido composta sobre ela, talvez ali mesmo, tratava-se apenas do primeiro de muitos casos em que as letras de Kurt seriam erroneamente interpretadas. Já nesta primeira apresentação, Kurt não se mostrou gentil a uma platéia que deturpava sua verdadeira intenção. "É, eu vou lhe dizer a letra", ele falou, soando como se tivesse sido insultado. "Diz o seguinte: 'Foda, Boceta, Mineteiro, Olho-do-cu, comer merda, filho-de-uma-puta, lavagem anal, escroto [...]'" A garota desatou a correr.
Kurt foi procurar Krist e o encontrou no teto da van, urinando nos carros dos outros convidados. Vendo essa demonstração e sempre preocupado inteligentemente com sua autopreservação, Kurt disse a todos que era hora de ir embora. Juntaram seus equipamentos e partiram, receando que sua retirada fosse impedida por punhos e pés de seus anfitriões. Mas a platéia de Raymond, apesar de ser considerada caipira, na verdade se mostrou mais receptiva do que muitas das platéias que pagariam para ver o Nirvana nos vários anos seguintes.
Alguns chegaram a comentar: "Caras, vocês são muito bons". [...]
Enquanto todos se apertavam na van, houve alguma discussão sobre quem no grupo estava menos bêbado, e embora Kurt fosse o mais sóbrio ninguém confiava nele para dirigir. Ele se sentou atrás, enquanto Burckhard assumia o volante. "Todos foram para fora assistir á partida", lembra Jeff Franks, que morava na casa.
"Todos se sentaram no banco traseiro da van sobre os rolos de carpete, com a porta de trás ainda aberta. Conseguimos vê-los baixando a porta enquanto aceleravam jogando cascalhos com os pneus."
Dentro da van não havia janelas e, com a porta deslizante abaixada, era escuro como breu. Levaria vários meses até que tocassem novamente diante de uma platéia, mas eles já olhavam com expectativas para seu futuro, com uma pequena parte de sua lenda já formada."
Trechos do Livro "Mais pesado que o céu"
[...]" 'Estavam todos tão assustados com a gente, que ficaram na cozinha, se escondendo de nós', diz Kurt. 'Tínhamos o espaço da sala inteira e do restante da casa.'[...] 'Claro que no fim da noite, a maior parte das garotas na festa , queriam que seus namorados batessem na gente. Eles não bateram, mas deixaram claro que não éramos bem-vindos. 'É hora de arrumar as coisas e dar o fora caras'.
A maioria das pessoas estava confusas porque a banda não tocara muitos covers. 'Eles não sabiam o que pensar.', fala Chris, lembrando que alguns poucos foram empolgados falar com a banda depois do show. 'Vai saber o que aconteceu às pessoas que acharam legal', acrescenta ele, balançando a cabeça em sinal de pena."
Trecho do livro "Come as you are"
Foto retirada do Live Nirvana Guide
Bootleg que contém esse show
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